Escrita avulsa retirada da gaveta: diarística, textos esparsos, relíquias, memórias, antiguidades, velharias e outras inutilidades.

19
Jan 21

                              Momento

Eis a paisagem: cenário de cordas enternecidas

Subindo noites no bolor interstelar.

Relâmpagos, néons, e por fim a tempestade solar

No céu sem sombra da memória incandescida.

 

Em cada aranha um filamento articular,

Em cada fio uma distância irresolvida.

Terás na vida a sempre teia a tricotar:

Serás insecto sem projecto e sem descida.

 

                          © PEDRO BARBOSA, Porto, 4 Nov. 1983

 

publicado por Pedro Barbosa às 05:37

22
Mai 20

 

A NAU DE PLATÃO E A VELA DO LIVRE ARBÍTRIO

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O filósofo Platão, na sua época recuada, fantasiou uma interessante parábola para ilustrar o jogo entre o livre arbítrio e a predestinação. Pediu que imaginássemos uma nau com rumo fixo cujo capitão dirige o barco por um determinado trajecto até ao porto de chegada: isto corresponde à predestinação, ao inexorável. Mas, enquanto dura a viagem, os ocupantes podem mover-se livremente pelo barco e assumir as várias atitudes que acreditam ser convenientes: esta é a parte do livre arbítrio que corresponde ao ser humano.

O Universo, na sua grandiosidade, segue Leis que nos escapam. Mas nós não escapamos a essas leis enquanto fazemos parte do universo: a nossa liberdade está, não limitada, mas sim em coordenação ou descoordenação com o destino universal.

Vemos aqui, em polaridades antagónicas, duas posições filosóficas reconciliadas numa coexistência pacífica. Num equilíbrio de opostos: fatalismo/liberdade, determinismo/indeterminismo, causalidade/casualidade, mecanicismo/aleatoriedade, intencionalidade/absurdo, ordem/acaso, cosmos/caos, e por aí fora. A oscilação faz-se assim entre o “tudo está escrito”, seja nos livros ditos sagrados, seja inscrito na ordem do universo, e o absurdo existencialista que confere ao homem uma liberdade quase absoluta porque o existencialismo apenas olha para dentro da nau – e nesse terreno é coerente. A alegoria de Platão é aqui sugestiva pois relativiza os dois extremos: na dualidade dos opostos em que nos encontramos tudo é relativo, nada é absoluto, e daí que a questão do livre-arbítrio também não o seja.

Num pensamento dialéctico torna-se assim pacífico conceber esta relação dual entre as duas polaridades extremas como sendo um equilíbrio entre dois polos, positivo e negativo, que delimitam em maior ou menos grau a condição humana e dinamizam o universo. A aceitação de um caminho pré-determinado (um “tao”), cuja meta importa atingir, não invalida a pluralidade dos percursos ou dos métodos para se atingir esse fim. Muitos são os trilhos da floresta! Deste modo se podem articular os dois conceitos falsamente antitéticos, o Destino e a Liberdade: uma síntese que corresponde ao equilíbrio dos opostos.

Deixemos então aqui esta alegoria platónica da nau com seus marinheiros dentro: voltaremos a este oceano.

© Pedro Barbosa – 22 Maio 2020

 

publicado por Pedro Barbosa às 21:47

14
Fev 18

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Estou farto de mulheres “poetas”: onde estão as “poetisas”?

Poeta não é palavra de Lesbos: tornada palavra unissexo, poeta é uma palavra horrível. Pior do que isso só mesmo “presidenta”! Mas a um político (ou a uma “política”, já agora, rs) ainda se tolera alguma ignorância literária. A uma “poetisa”, não! Poeta é homem, poetisa é mulher. Pronto: é assim que a nossa língua foi feita. Sem género neutro como o latim ou o grego. Quem escolhe dizer poeta, como palavra comum de dois, escolhe o estigma do eunuco: será que vai no rebanho do feminismo militante dos anos 70 ou será que morde o isco da actual moda LGBT? Poetisa não é uma palavra travestida. Nem mesmo no Entrudo. A linguagem humana tornou-se bipolar, tem duas vestes de energia: há palavras Yin e há palavras Yang – e ambas amorosamente se fundem. A mulher que se diz poeta apaga a beleza sibilina da palavra poetisa. É verdade: a energia das palavras também emana do som que delas se desprende... Já aborrece a moda do género: género têm as palavras (mesmo as neutras). As pessoas têm sexo: nada a fazer, por enquanto! E um poema de amor, escrito por um poeta ou por uma poetisa, exterioriza bem essa diferença. A poesia não é neutra como a matemática: canta mundividências desiguais se exprime as rimas de um homem, de uma mulher, de um gay ou de uma lésbica. Mesmo que se exprima em prosa ou verso branco. A literatura tem sexo, não tem género. A LITERATURA não é “LITERATURO”! Nem um jornalista é um “jornalisto”: não conheço palavra mais horrível do que “POESIO”. Com tanto puritanismo o que se pretende apagar? Não, não é uma questão de gramática! Nem de ignorância etimológica. É uma questão de beleza das palavras.

Porque hão-de as mulheres que escrevem versos desprezar a palavra mais bela que a linguagem lhes deu?

Poetisa tem algo de sacerdotisa: a magia fina dos seus versos!

Poetisa, pitonisa, sacerdotisa, profetisa...

Por favor, não matem a beleza das palavras. Com ou sem métrica, com ou sem rima.

© Pedro Barbosa – 14 Fevereiro 2018

 

publicado por Pedro Barbosa às 00:07

20
Set 17

É nos filmes porno americanos que as mulheres melhor exprimem o seu misticismo. Só se ouve, entre gemidos: «Oh, my God! Oh, my God!» Será que encontram mesmo Deus? Naquele transe erótico a imaginação, contudo, não vai longe, e às vezes variam de mantra: «Oh, Yes, yess, yesss, yeeesssssss!» Parece que aí elas sobem aos céus e encontram alguma divindade no paraíso. Tenho inveja metafísica da sensibilidade feminina.

Os homens, nessa mesma cinematografia porno, são sempre mais laicos, mais ateus.

 

20-09-2017

© Pedro Barbosa

publicado por Pedro Barbosa às 18:53

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Interrogo-me. Será a Internet, a grande nuvem planetária, essa “cloud” electrónica, uma simulação prévia por meios tecnológicos do Arquivo Akáshico (etérico) dos esotéricos? Uma e outro acumulam o saber terreno e cósmico como uma fonte inesgotável. Procura, pesquisa, interroga – e obterás a resposta. Num estágio de evolução superior essa comunicação será mental, anímica; no estágio de desenvolvimento ainda físico em que a humanidade se encontra essa fonte de saber tem que ter uma consistência ainda electromagnética para poder ser acessada por meios tecno-materiais. Somos seres físicos, ainda. E a Internet é hoje a materialização da Noosfera humana (teillardiana) – todo o conhecimento humano, tanto as suas verdades quanto os seus erros lá estão, disponíveis. Será uma mera aprendizagem que é feita pela humanidade neste momento de transição entre o plano físico e o mundo astral?

 

20-09-2017

© Pedro Barbosa

 

publicado por Pedro Barbosa às 18:17

29
Jan 17

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Camões, além de poeta, era também um precursor da “ufologia” (muito antes de a Ufologia ter o nome que hoje tem).

Senão releia-se à luz da ufologia, no Canto I, o famoso Concílio dos Deuses: o que representa essa disputa celestial? Uma discórdia entre seres não mortais que, em um plano transcendente, controlam e vigiam o destino dos humanos! Os céus e a terra tremeram com o tumulto dos deuses: sujeitando os humanos ao seu tão relativo e condicionado livre arbítrio.

Todas as mitologias em todas as culturas se afinam pelo mesmo diapasão. Desde o Mahabharata hindu até à tragédia grega ou à epopeia da Antiguidade Clássica, desaguando na Bíblia ou no Livro de Urântia:  uma velha Guerra das Estrelas, com as sempiternas lutas entre os deuses, a eterna batalha entre deuses e demónios, entre o Bem e o Mal, e por fim a Revolta dos humanos contra os deuses - dos escravos reivindicando a sua libertação. O famoso “Concílio dos Deuses”, reunidos nessa ONU celestial de Os Lusíadas, não foge è regra: Camões faz os deuses pagãos decidirem do destino a conceder à viagem de Vasco da Gama e à glória de Portugal… Ou seja: Camões, além de poeta, revela-se avant la lettre um perito em “ufoarqueologia” – porque muito antes de von Daniken e de Sitchin, e ainda sem deuses astronautas, que seriam anacrónicos para a época, tudo ele intuiu sobre os Keepers, os guardiães desentendidos deste planeta, os seus zeladores, vigias, governantes, jardineiros, curadores, aos quais na época obrigatoriamente chamou deuses, e não ETs, porque essa era a tradição renascentista.

E aqui se joga o infindável dilema filosófico entre Destino e Liberdade, entre fatalismo e livre-arbítrio, entre determinismo e estrutura rizomática da realidade.

Em suma: só hoje, nos meus sixties, entendi a grandeza cósmica da épica camoniana, depois de a ter odiado na adolescência quando dividia as orações e estudava sintaxe nas suas estâncias. Quatro séculos mais tarde vem o supra-Camões, o poeta-avatar de nome Pessoa, que tudo corrobora no célebre verso: «O mito é o nada que é tudo».

 

29-01-2017

© Pedro Barbosa

publicado por Pedro Barbosa às 22:32

08
Set 15

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Muitas são as tradições ocultistas que diabolizam ou cultuam o famoso 666: o chamado "número da Besta"! Mas, do ponto de vista científico, o 666 pode também ser visto como a estrutura do átomo de Carbono: 6 protões, 6 neutrões, 6 electrões! E não é o carbono a base da vida biológica na Terra? Então penso, divago, divirjo. Porque, de acordo com o enigmático «Livro de Urântia» (Livro da Terra), nós habitamos o Universo de Nebadon (um dos 7 Grandes Universos), e precisamente num recanto da Via Láctea que é tido como a zona satânica - ou melhor, a zona dissidente de influência luciferiana (de Lúcifer, o anjo rebelde portador da Lux). Não quero com isto ressuscitar o velho maniqueísmo da guerra cósmica entre Michael e Lúcifer. Nesta ambígua dicotomia, confusa e poluída, nunca saberíamos quem é quem, nem de que lado estamos. Apenas reflicto nesta curiosa coincidência. O 666 é também o símbolo que configura o átomo de carbono, no qual se baseia a vida neste canto do Universo. Acresce que algumas mensagens crípticas nos agroglifos insinuam recentemente a existência de vida alienígena baseada no átomo de silício. Será assim? Se este planeta onde tentamos sobreviver sobre a tripla estrutura hexagonal do carbono é também um "planeta satânico", isso não sei. Mas que um ignoto espírito maligno o parece animar, montando nele o palco de uma negra tragicomédia, isso sim: basta aqui estar e ver! Não sei é quem ri ou quem chora sobre tudo isto! Planeta satânico? Planeta baseado no átomo de carbono? Sei lá! Todavia sei algo dessa vasta Guerra Sideral que nos assola há milénios a partir dos planos subtis: batalha multissecular que hoje atinge o paroxismo. E por isso, nesta era da informática baseada no silício, penso, divago, medito, divirjo. Carbono versus Silício? A velha luta entre Deus e o Diabo? A velha Guerra dos Deuses embalada em versão de estrutura atómica do Universo? Risível? Não, porque não rio. Penso, só isso. Que mal há em pensar!?

08-9-2015

© Pedro Barbosa

publicado por Pedro Barbosa às 20:23

11
Jul 15

Improviso teatral a solo. Com leitura de textos assinados pelo autor. Discussão aberta ao público. 

Estreia amanhã, fora de horas, em local a anunciar. 

Repito: "No tempo em que Mozart era baterista".

Estreia amanhã, sim, fora de horas. 

Entrada livre. A saída também.

 

 

31-6-2015

© Pedro Barbosa

publicado por Pedro Barbosa às 04:53

24
Jun 15

 Quando li a notícia necrológica no jornal, disse para comigo: «Dio mio, a quanto obrigas tu, ó vida social! Nunca tive de acordar tão cedo para ir ao meu próprio funeral… Enfim, nada a fazer. Lá tive de estar em ofício de corpo presente. Ninguém para me substituir.»

24-6-2015

© Pedro Barbosa

publicado por Pedro Barbosa às 19:32

22
Jun 15

O que tanto nos seduz na magia do espelho? É que ele nos devolve a imagem de um real irreal. Penteias-te diante dele, mas sabes que a imagem que vês é uma simetria inexistente. Contudo, tomas essa ilusão dos teus sentidos como verdadeira. Mais: guias-te por ela, mexes-te diante dela, compões a tua máscara, acertas a posição, entras na farsa deste mundo.

A tua ilusão torna-se a bússola do que julgas ser real.

Espelho mágico: é essa frágil ilusão palpável (tacteável, afagável, embaciável, quebrável, estilhaçável) da nossa imagem do real. Da nossa imagem “no” real. Menos distraidamente, porém, o espelho torna-se a experiência diária do irreal. O lado visível do invisível? O matemático Lewis Carroll sabia-o bem quando inventou Alice e a colocou do outro lado do espelho. Do outro lado do real? Ou do outro lado do irreal? A caverna de Platão mostrava-nos as sombras da realidade. O espelho mostra-nos as formas da realidade na luz. Plano, côncavo, convexo ou assim-assim: de muitos modos a realidade pode ser distorcida. E o mundo é essa grande sala de espelhos. Uma sala que enlouquece o nosso ego de tantas irrealidades autenticadas pelo ilusionismo da luz.

E aí, perdido nesse labirinto de falsas realidades paralelas, o nosso “ego” fragmenta-se, quebra em estilhaços. Assim é o nosso “eu”: moldura de um espelho quebrado em pedaços. “Uno, nessuno, centomila”: um, cem mil, e… ninguém.

22-6-2015

© Pedro Barbosa

publicado por Pedro Barbosa às 05:15

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